quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fluidos Biológicos- Edema

Edema é o nome que se dá ao inchaço localizado em alguma parte do corpo. Os edemas mais conhecidos são os que ocorrem nas pernas. Mas edemas podem ocorrer em qualquer ponto. Existe edema de pulmão, edema cerebral, edema de glote, edema de língua etc...

Vamos então entender o que é edema. Os edemas de órgãos eu falarei em outra oportunidade. Agora vou me ater apenas aos edemas visíveis na pele.

Ao contrário do que se possa imaginar, os nossos vasos sanguíneos não são impermeáveis e apresentam poros que permitem a saída e entrada de células, bactérias, proteínas e água.

O inchaço ocorre quando há um excesso de saída de líquido para um tecido. Na verdade o excesso de água vai para o interstício, que o espaço existente entre as células dos tecidos.

Quando ocorre uma inflamação, os vasos sanguíneos ficam mais permeáveis para facilitar a chegada das células de defesa ao local da infecção ou trauma. Com o alargamento dos poros, há um maior extravasamento de líquidos para os tecidos ao redor.

O processo de formação de edema em um trauma ou infecção é fácil de entender e está detalhadamente explicado no link acima. O problema é que o edema pode se formar em várias outras situações.

Existem outros 3 mecanismos para formação do edema além do aumento da permeabilidade dos vasos:

1.) Aumento da pressão dentro das veias e capilares. Esse aumento nada tem a ver com hipertensão, que é a elevação da pressão arterial. Não custa lembrar que as artérias levam os sangue do coração aos órgãos e tecidos enquanto as veias fazem o caminho inverso, trazem de volta sangue dos tecidos para o coração.

O aumento da pressão venosa ocorre quando há algum tipo de obstrução, mesmo que parcial, ao fluxo sanguíneo venoso. Damos o nome de aumento da pressão hidrostática, ou seja, da pressão que o volume de líquido dentro do vaso faz sobre a parede do prórpio.

Um conhecido exemplo são as varizes nas pernas. Varizes são veias defeituosas que apresentam dificuldade em levar o sangue de volta ao coração. É bom destacar que as veias das pernas precisam agir contra a gravidade, e quando há algum defeito neste sistema, ocorre um represamento de sangue nos membros inferiores. O sangue acumulado nas veias, aumenta a pressão dentro das mesmas e causam extravasamento de líquidos para o tecido subcutâneo. Este quadro é chamado de insuficiência venosa dos membros inferiores


Outro mecanismo semelhante ocorre na insuficiência cardíaca, onde um coração fraco não consegue bombear o sangue de modo eficaz, novamente favorecendo o represamento do mesmo no membros inferiores.

Tanto na insuficiência cardíaca quanto na insuficiência venosa dos membros inferiores, o edema surge e piora quando o paciente fica muito tempo em pé e tende a desaparecer após algumas horas deitado, quando a gravidade não exerce força contrária.

Um dos sinais típicos do edema nas pernas é o cacifo ou sinal de Godet, que é a presença de um pequeno afundamento na pele à digitopressão (foto abaixo). É um sinal de excesso de líquido no tecido subcutâneo.


Em algumas doenças, principalmente de origem renal, ocorre um acumulo de sódio (sal) no corpo. Esse excesso de sal aumenta a quantidade de água corporal, que por consequência aumenta não só a pressão arterial, mas também a pressão venosa, favorecendo o aparecimento de inchaços.

Os 2 mecanismos descritos anteriormente (permeabilidade vascular e aumento da pressão venosa) são causas de edemas localizados, ou nas pernas ou no local acometido por trauma ou inflamação. No caso da retenção de sal, o edema costuma ser mais difuso.

2.) Um outro mecanismo para a formação dos inchaços, é a diminuição da viscosidade sanguínea, chamada de pressão oncótica, e é dada principalmente pela concentração de proteínas no sangue.
Enquanto que o aumento da pressão dentro das veias favorece o extravasamento de líquidos, a pressão oncótica faz o trabalho inverso. Portanto, a formação dos edema é um balanço entre a pressão hidrostática e a pressão oncótica.

Quando se tem alguma doença que diminua as proteínas sanguíneas (a principal é a albumina), o paciente tende a formar edemas, mesmo que a pressão dentro das veias seja normal. Neste caso o edema é generalizado, já que a falta de proteína ocorre por todo o corpo.

Quando o edema ocorre de modo difuso, damos o nome de anasarca. A doença característica deste tipo de edema é a cirrose. O principal produtor de albumina do corpo é o fígado. Quando este para de funcionar corretamente, reduz-se a síntese de proteínas e consequentemente a pressão oncótica. O resultado final é a anasarca.

Um tipo de edema típico da cirrose, e que faz parte da anasarca, é a ascite, que ocorre pelo extravasamento de líquido para dentro da cavidade abdominal. Também pode ocorrer na insuficiência cardíaca avançada. A ascite apresenta dois mecanismos: ocorre tanto pela falta de albumina como pelo aumento da pressão nas veias do fígado, comum na cirrose.

Outra doença que pode causar edemas difusos e ascite é a síndrome nefrótica, que nada mais é que uma doença renal onde ocorre perda de proteínas na urina .

Na verdade, qualquer doença crônica grave pode inibir a produção de albumina pelo fígado e causar edema.

3.) Outro tipo edema, esse menos comum, é o de origem linfática. É chamado de linfedema e ocorre por obstrução dos vasos linfáticos. Ocorre na elefantíase, nos cânceres, na obesidade mórbida e nos membros superiores de doente que fazem mastectomia e retirada dos gânglios da axila. Na insuficiência venosa grave e não tratada, pode ocorrer também linfedema associado.

O linfedema não costumar ter cacifo e é mais deformante que o edema venoso.

Muitas vezes os edemas são causados por mais de um mecanismo.

Causas de edema:

1.) Aumento da pressão hidrostática e/ou retenção de sódio
Insuficiência venosa
Insuficiência cardíaca
Insuficiência renal
Gravidez
Trombose venosa
2.) Diminuição da pressão oncótica
Cirrose e doenças hepáticas
Síndrome nefrótica
Doenças crônicas
Desnutrição
3.) Aumento da permeabilidade vascular
Sepse
Grandes queimados
Inflamações (edema local)
Reação alérgica
4.) Linfedemas
Câncer
Ressecção de gânglios
Elefantíase (filariose)
Obesidade
Hipotireoidismo grave (mixedema)
Edema sem causa aparente (edema idiopático)

Existe um tipo de edema que ocorre principalmente em mulheres jovens e sadias, normalmente associado ao período menstrual. Também está associado a obesidade e depressão. Não há causa aparente.

O edema costuma ser cíclico e muitas mulheres tomam diuréticos próximo ao período menstrual para alívio dos sintomas. Na verdade, tomar diurético para esse tipo de edema só PIORA o quadro. Uso crônico de diurético sem indicação é uma causa de edema por mais paradoxal que isso possa parecer.

O diurético mal indicado aumenta a retenção de sódio, principalmente nos intervalos entre as tomadas. O doente acaba ficando dependente do remédio e não consegue estabelecer uma ligação causal com o diurético. Na verdade, o paciente acha que só o diurético alivia seu edema. Quando se suspende o diurético, ocorre uma piora do edema, o que assusta e faz com se retorne o medicamento. Após algumas semanas sem diurético, o edema regride sozinho.

Portanto, não se usa diuréticos em pessoas saudáveis com pequenos edemas nos membros inferiores, principalmente se associados ao período menstrual. O melhor é reduzir o consumo de sal, suspender drogas que possam causar edemas como Nifedipina, amlodipina, rosiglitazona Antiinflmatórios e minoxidil. Naqueles com excesso de peso, emagrecer é necessário.

Um tipo de edema comum na prática clínica é o que ocorre em doente com longa internação, principalmente em UTI.

Referência: http://www.mdsaude.com/2009/02/inchaco-e-edema.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário